sábado, 24 de março de 2012

Nem de ferro, nem de aço

Eu frequento o consultório do meu psiquiatra/terapeuta há uns quatro anos mais ou menos, e nesses anos todos de diversas indas e vindas ao consultório eu não me lembro de em alguma sessão que seja não tê-lo questionado sobre a seguinte questão "Por quê viver é tão difícil?"


E no meio de tantas falas, tantos discursos, objeções e reclamações (da minha parte, é claro!) ele sempre terminava dizendo "Coragem menina, coragem" - um adendo para o tanto que esse menina me faz bem, tanto para o ego perto de quase 1/4 de século de vida, quanto para a alma que sente um afago e um carinho com um quê de proteção - E eu sempre volto pra casa me questionando sobre essa tal coragem.


A verdade minha gente é que eu sempre fui tachada de forte e corajosa, eu era a durona da turma, a mandona da escola, a com cara de mau e título de briguenta. Quanta bobagem minha Santa Cher!


Entendam definitivamente que eu não sou forte, não sou de ferro, nem de aço, não sou descendente do Wolwerine e portanto não tenho adamantium no corpo, sou feita de carne, sangue e ossos...que se quebram! Eu sangro muito, sempre....E convenhamos néh eu não me recupero tão fácil dos ferimentos como o herói dos quadrinhos, e nem de longe me pareço com aquela delícia de barba mal feita que passa na telona pilotando sua moto e derrubando helicópteros com suas garras inquebráveis.
Eu? eu me machuco fácil e demoro semanas para curar um machucado na pele, os ferimentos da alma, esses demoram anos...


Eu tenho medo, muito medo. Tenho medo até de ter medo!!!!
Tenho medo de abelha, de barata, de cobra, de aranha e de rato. Tenho medo até de urso polar como se fosse me deparar com um exemplar desses na esquina de casa. Eu tenho medo da solidão, tenho mais medo ainda de bicho gente, tenho medo da morte, não da minha, que fique claro isso. Tenho medo da morte das pessoas que eu amo, é que sabe gente, quem não sabe perder tem medo.


Eu sou c-a-g-o-n-a, tenho medo e me escondo dos meus bichos papões embaixo das cobertas e choro feito uma criança assustada.
Eu grito Paaaiêee, manhêeee quando o bicho pega e eu não tenho pra onde correr, eu rezo e faço promessas, tudo isso por medo.


Então parem de me chamar de corajosa e Vida pare de me dar porrada como se eu fosse sobrinha nea do Wolwerine, grata.


Enfim, eu sempre me lembro do meu psiquiatra e tenho certeza de que le também lê Guimarães Rosa. E são as palavras do poeta que eu repito pra mim mesma todos os dias como quem canta um mantra ou faz uma prece:
"O que a vida quer da gente é coragem".




"O correr da vida embrulha tudo.

A vida é assim: esquenta e esfria, 

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem."

(Guimarães Rosa)